Girasoles negros

Conocí unos ojos que cuando me miran, me penetran con su furia existencial.
Como si un dios extraño y perverso, la hubiera dotado de la mirada del más allá.
Y cuando habla, sus palabras salen del centro de esos ojos.
Basta un silencio para comprender que sólo está apuntando la próxima flecha, directo al blanco, sin contemplaciones.
Posiblemente ella nació desde sus ojos. Lo primero que salió del vientre de su madre, fueron sus ojos. Un estallido cósmico, una explosión de girasoles negros que dibujaron pétalos en forma de pecas sobre su rostro. Como para dejar en claro, que en el inicio, sólo eran ellos, y recién luego, todo lo demás.
Y el que ose sostenerle la vista, no lo hará de forma gratuita. Cuando quiera apartarse se habrá dado cuenta que entre sonrisa y sonrisa, la carne al rojo vivo de sus labios ya lo habrá atrapado. Y con la fuerza de un pantano lo invitará a ahogarse en ellos sin posibilidad de retorno. Apuntará sus pupilas y te disparará sus palabras para hacerte morir en su boca.
Y te pedirá conocer tus secretos. De esos que nunca contaste a nadie. A cambio, te contará alguno de los suyos. Y entre secreto y secreto se hará cómplice y confidente. Y te invitará a mirar el atardecer. Y te prestará sus ojos para ello. Y conocerás por primera vez lo que es alimentarse del sol. Sentirás la oscuridad transformarse en luz poderosa. Comprenderás la vida y el mar. Y desearás no volver. Como un agujero negro que todo lo devora sentirás el impulso de fundirte en sus ojos mirando el sol y no te importará arder.
Entonces abrirás tus ojos y la verás de espalda, a contraluz, mirando al sol, como un girasol negro. La verás alejarse con el atardecer. Y vendrá la noche. Y con la noche la oscuridad. Pero no tendrás miedo. Te invadirá la curiosa sensación de haber vivido un instante de magia en el punto exacto donde todo empieza y termina y ya no necesitarás nada más. Sólo querrás volver a ver esos ojos, una vez más.

Jacuna

27/03/2021





Girassóis pretos

Coneci umos olhos que quando me olham, me penetram com sua fúria existencial.
Como se um deus estranho e perverso a tivesse dotado com o olhar do além.
E quando ela fala, suas palavras saem do centro daqueles olhos.
Basta um silêncio para entender que ela está apenas apontando a próxima flecha, direto para o alvo, sem contemplação.
Possivelmente ela nasceu de seus olhos. A primeira coisa que saiu do ventre de sua mãe foram os olhos. Uma surta cósmica, uma explosão de girassóis pretos que desenhou pétalas sardentas em seu rosto. Como se quisesse deixar claro que no começo eram só eles, e só então, todo o resto.
E quem se atreve a manter seu olhar não o fará de graça. Quando você quiser se afastar, terá percebido que entre sorriso e sorriso, a carne em brasa de seus lábios já o terá prendido. E com a força de um pântano ela o convidará a se afogar neles sem possibilidade de retorno. Ela vai mirar em seus pupilas e atirar suas palavras em você para fazer você morrer em sua boca.
E vai pedir que você fale seus segredos. Do tipo que você nunca contou a ninguém. Em troca, ela lhe contará o dela. E entre segredo e segredo ela se tornará cúmplice e confidente. E vai te convidar a assistir ao pôr do sol. E ela vai lhe emprestar os olhos para isso. E você saberá pela primeira vez o que é se alimentar do sol. Você vai sentir a escuridão se transformar em uma luz poderosa. Você vai entender a vida e o mar. E você não desejará voltar. Como um buraco preto que devora tudo, você sentirá vontade de derreter nos olhos dela olhando para o sol e não se importará em queimar.
Então você abrirá os olhos e a verá de costas, contra a luz, olhando para o sol, como um girassol preto. Você a verá se afastar com o pôr do sol. E a noite chegará. E com a noite a escuridão. Mas você não terá medo. Você será invadido pela curiosa sensação de ter vivido um instante de magia no ponto exato onde tudo começa e termina e você não precisará mais de mais nada. Você só vai querer ver aqueles olhos novamente, mais uma vez.

Jacuna

27/03/2021